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Jul-Ago/2017
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Jornal AÇÃO
CAPA
AINDA É POSSÍVE
O mundo atravessa uma crise de confiança nas
instituições: empresas, governos, ONGs e mídia.
É o que revela o estudo Edelman Trust Barometer
2017, realizado em 28 países com mais de 33 mil
entrevistados. Na pesquisa, o Brasil está entre uma
das nações em que a população menos acredita
no setor público (24%) e tem a corrupção como seu
maior temor (87%).
Outro levantamento realizado pelo Instituto
Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), em parceria
com o Datafolha, revelou que 90% dos jovens de 14
a 24 anos consideram a sociedade brasileira pouco
ou nada ética. Diante dessa crise de confiança que
atinge o mundo, em especial o Brasil, a ANABB
mergulhou no assunto e consultou especialistas para
entender mais sobre esse cenário de desconfiança, o
cerne da corrupção cotidiana e os caminhos para sair
desse quadro.
Para o cientista político Valdir Pucci, a descrença
do brasileiro em relação à política não é uma surpresa
e aponta que a falta de entendimento dos políticos
sobre os interesses da sociedade e a liberdade de
imprensa são dois fatores que colaboram para o
aumento da desconfiança da população. “Os políticos
têm dificuldade de entender que a sociedade já
não tolera práticas que antes eram até comuns e
aceitáveis, como o patrimonialismo. Pode-se falar que
a sociedade brasileira evoluiu em vários aspectos,
porém a classe política permaneceu estagnada.
Graças à liberdade de imprensa e de informação,
cada vez mais o brasileiro tem descoberto como os
políticos se comportam não apenas pelos meios
tradicionais de comunicação, mas também pelas
mídias sociais”, destaca Pucci.
É fato que a corrupção no Brasil nunca esteve
tão exposta como nos últimos anos. A cada dia, um
novo escândalo é revelado e as mídias sociais e as
ferramentas tecnológicas têm-se tornado grandes
aliadas na denúncia dos atos de corrupção. Hoje,
qualquer descuido está sob o alcance das câmeras
de celular e pode viralizar nas redes sociais.
“Vejo de maneira positiva essa capacidade
da sociedade de ‘produzir’ seu conteúdo. Mas é
importante destacar que isso ainda não é entendido
pela classe política tradicional do Brasil. Muitos
políticos ainda acreditam viver em um país de total
impunidade, em que eles podem fazer tudo sem a
necessidade de prestar contas à sociedade. Esse é o
fosso que existe entre a classe política e a população.
Por exemplo, mesmo com investigações em curso,
muitos políticos continuam a fazer o mesmo que
faziam antes. Isso é uma visão distorcida que eles
As seguidas denúncias de corrupção envolvendo políticos e gestores e a
consequente crise política e econômica instalada no país trouxeram à tona
o sentimento de descrença, quase que generalizada, dos brasileiros em seus
agentes. A ANABB conversou com especialistas para entender mais sobre o
atual cenário, o cerne da corrupção presente empráticas cotidianas, a
importância do voto e da cobrança do cidadão e a perspectiva para o futuro
Por Elder Ferreira e Josiane Borges