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Jornal AÇÃO
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Jul-Ago/2014
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CARTA DO PRESIDENTE
Quanto às obras de mobilidade urbana, só ficamos sabendo
o que faltou fazer. Pouco ou quase nada foi noticiado sobre o que
foi construído, melhorado ou apenas consertado. Quanto aos ae-
roportos, só se mostravam os tapumes e as goteiras em dias de
chuva intensa. Nada saía sobre as novas esteiras de bagagem, a
nova área de raios X, os novos terminais de passageiros. Enfatizo:
todos nós tínhamos o direito de saber tudo que era problema. E a
imprensa tinha o dever demostrar, até para cobrar soluções. Mas
o que houve de gravíssimo na cobertura sobre a Copa doMundo
foi a completa interdição de notícias sobre o que estava sendo fei-
to de positivo. Não nos deramo direito de saber isso. A sensação
produzida na população foi de umcaos completo, de umpaís em
frangalhos.Oremédio?Segundoela, sóem5deoutubro.
Emsíntese,afaltadeequilíbriononoticiário induziuaspessoas
a sentirem vergonha não só do Mundial, mas tambémde serem
brasileiras. Não por acaso, neste ano, torcedores, comerciantes e
até anunciantes demoraram tanto para entrar no clima da Copa.
Ninguém queria correr o risco de associar sua imagem à de um
eventodestinadoao fracasso. Foi criadoemnósoconstrangimen-
todetorcerpelaSeleção,oquesócomeçouadiminuircomoinício
dos jogosequenãoacaboupor completonemcomaderrotaaca-
chapante para a Alemanha. Entretanto, o que causou amudança
depercepçãoedediscurso?Comasimagensdatelevisãoouaida
aosestádios,aspessoasdescobriramquehaviamcompradouma
visão do país e da Copa completamente distorcida. Não foi mais
possível esconder a realidadecomoelaé.
Hoje, parte da imprensa ainda afirma que a Copa não deixou
legado. Não tenho ideia do que ela pensa que vai ser feito comos
estádios, comas obras viárias e comos aeroportos. Tudo será im-
plodido? Fico aqui pensando emoutras situações emque somos
vítimas de manipulações. O Brasil é um país commuitos proble-
mas, que têmde ser mostrados. Porém, não consigo ler nada na
imprensa que explique fatos que todos podemos constatar: bai-
xíssimo índice de desemprego, tantos filhos de famílias pobres na
universidade,tantagentecomcelulareautomóvel,tantagentenos
aeroportos, tanta gente indo ao exterior, tanta gente com casa e
mobílianovas.Damesma forma, constatoproblemascomnossas
CassiePrevi.Jáfuipresidentedeumaeconselheirofiscaldeoutra.
Peloqueouvi nasúltimaseleições, asensaçãoéadequeasduas
sãoapenasantrosdecorrupçãoe incompetência, nasquaisosdi-
rigentes fazemde tudoparaprejudicar osparticipantes. Deminha
parte, tenho feito críticas públicas a algumas decisões de nossos
dirigentes, comonocasodo tetoparaestatutários.
Entretanto, existe uma distância gigantesca entre tecer críti-
caseconcluir queaPrevi jáéquaseumnovoAerusequeaCassi
está completamente falida. Agora que passaramas eleições, tal-
vez seja hora de nos unirmos para combater o que está errado
e lutar, comtodas as forças e semnenhuma vergonha, para pre-
servar oquehádebomnas instituiçõesquesão referênciaspara
outros trabalhadores.
Boa leituraa todos.
Quem teve acesso a previsões sobre a realização da Copa
do Mundo 2014 apenas pela grande imprensa deve estar cho-
cado com o sucesso que a realidade demonstrou. As matérias
falavam de um verdadeiro caos: estádios não ficariam prontos,
aeroportosnãodariamcontadorecado, otransporteparaasare-
nasseriauma tragédia, nãohaveriasinal telefônicodisponível, os
protestos tomariamcontadas ruas, haveriaepidemiadedengue
emalgumas cidades, umpartido político pediu ao STF direito de
protesto dentro dos estádios, celebridades declararam ter vergo-
nha do Brasil. Enfim, osmantras demaior repercussão nacional
eram“imaginanaCopa” eaté “não vai ter Copa”.
Depois que a bola rolou, veio o espanto positivo. Imprensa na-
cional e internacional, turistas estrangeiros, brasileiros em geral e
telespectadores do mundo inteiro mostraram-se surpresos com
o que constataram: belos estádios, gramados que resistiram a
chuvas torrenciais, aeroportos com índices de atraso inferiores à
média do primeiromundo, transporte para as arenas fluindo tran-
quilamente, poucas manifestações não atrapalharam o brilho da
festa,torcedoresdomundointeiroconfraternizandonasruasenos
estádios demaneira contagiante. Umapesquisa feitapelo
site
Uol
com117 jornalistas estrangeiros, publicadaem30de junho, reve-
louque para38,5%deles oMundial doBrasil foi omelhor já visto.
Osegundo foi odaAlemanha, em2006, com19,7%dosvotos.
A mídia nacional hoje critica a cobertura feita pela imprensa
estrangeira antes da Copa. Já os estrangeiros debochamdas pre-
visões da imprensabrasileira sobreoevento. O francês
LeMonde
ironiza: diz que a Copa maravilhosa foi ummilagre brasileiro. Em
um canal de esportes nacional, um apresentador iniciou uma re-
portagemrevelando que estava difícil encontrar umturista que fa-
lassemaldealgumacoisa–oquefoiumaconfissãodequeatevê
procurou turistas que falassemmal. Não seria impossível encon-
trarpessoascomqueixas.Perfeiçãonãoexiste.Problemassempre
acontecem, aindamaisemumeventodesseporte.
Se considerarmos que a cobertura jornalística feita antes do
evento, descontadas as previsões catastrofistas desprovidas de
fundamento, relatou problemas verdadeiros, como se pode expli-
car o surpreendente sucesso da Copa no Brasil? Como sou for-
mado em jornalismo, conheço técnicas que podem dar algumas
pistas. A receita é simples. Oeditor entrega uma pauta ao jornalis-
ta. Pede que ele recolha todos os sinais negativos que encontrar,
sejamdeque tamanho forem. Aí oprofissional vai aoestádioe fica
procurandoumbanheirosujo, uma torneiraquenão funciona, um
ralo fora do lugar, uma parede mal pintada, um resto de entulho,
uma goteiranaarquibancada. As fotos que ilustrama reportagem
provamqueoproblemanãoé invenção.
Opulodogatovememseguida: todoorestantedoestádioque
funciona não aparece na reportagem. Se já tiveremsido afixadas
40 mil cadeiras, ninguém fica sabendo. O público só tem direito
de saber que “a ummês do início da Copa, ainda falta instalar 10
mil cadeiras”. Amatérianãoesclareceque, emboraocronograma
estivesseatrasado, isso ficariaprontoemmaiscincoouseisdias.
Como manipular
dizendo a verdade
Sergio Riede – Presidente
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