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Jornal AÇÃO

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Jan-Fev/2017

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IM DA CELA

outros. O projeto ainda oferece biblioteca, alfabetização e

atendimento odontológico.

Luiz Carlos Marques, presidente da associação,

contou que, quando começaram a implantar a Acuda,

não havia projeto de ressocialização em nenhum pre-

sídio na região. Hoje, as cadeias que possuem presos

participantes do projeto Acuda apresentam um índice

de violência menor. “Agora temos presos dentro das

cadeias atendendo outros presos, pois se tornaram

terapeutas e estão aplicando, por exemplo, massa-

gens em cadeirantes”, comentou Luiz Carlos.

UMA REALIDADE DIFERENTE

A última grande rebelião que aconteceu em Rondônia

foi em 2002, quando 27 detentos foram mortos no pre-

sídio Urso Branco. A situação tem mudado muito desde

então. De lá para cá, os casos são pontuais e sem grande

repercussão. Trabalhos como o que a Acuda desenvolve

têm contribuído, e muito, para essa outra realidade, que

deveria também ser divulgada pela imprensa.

Com a experiência da Acuda, os detentos participantes,

em geral, conquistaram um espaço em que podem acre-

ditar em uma fase positiva para suas vidas. Vale destacar

que juízes da Vara de Execuções Penais de Porto Velho que

visitam a Acuda ficam surpresos quando veem ferramen-

tas, como serras e martelos, disponíveis para os presos e

a ONG nunca tenha enfrentado rebeliões ou homicídios.

Após visita ao local, o presidente do IVC, Douglas Scor-

tegagna, ficou impressionado com o trabalho desenvolvido

pela Acuda com os detentos de Rondônia. “Essas pessoas

encontrarama oportunidade singular de aprender umofício

e são tratadas com muito respeito e atenção. Quem dera

que todos os presídios do país seguissem o exemplo que é

dado ali”. Douglas ainda disse que exemplos como esse de-

vemser amplamente divulgados para que sejam replicados

por todo o sistema prisional brasileiro.

Os mais de 3 mil detentos que já passaram pela Acuda

desde sua criação, em 2001, vêm de todos os presídios

estaduais – incluindo o Aruana, que é de segurança má-

xima – para participar das atividades na ONG. Devido à

sua atuação e aos excelentes resultados obtidos com os

cursos e as técnicas terapêuticas, a Acuda conta hoje comgran-

des financiadores, como a Secretaria de Justiça de Rondônia

(Sejus) e o Banco da Amazônia. É importante destacar ainda

que, de tudo o que é produzido e vendido na loja da Acuda, 80%

retornam aos detentos e os benefícios se prolongam para além

das celas.

Celmiro Almeida, de 38 anos, é um dos ex-presidiários mais

entusiastas do projeto. Ele afirma que sua recuperação e mu-

dança de vida se devem ao trabalho da Acuda. “Muita gente

precisa da oportunidade que eu tive. Se os presos passarem

pelo projeto, podemmudar de vida. Para mim, foi a melhor coi-

sa que aconteceu. Eu entrei como marginal e saí com uma pro-

fissão e commelhores pensamentos”, comentou.

Celmiro participou, enquanto era detento, de todos os cursos

disponíveis naONGe tornou-se instrutor emalguns deles, como

foi o caso daOficina deMotos. A experiência foi tão positiva que,

ao adquirir sua liberdade, ele montou uma oficina em Porto Ve-

lho, tendo já uma fiel clientela demotociclistas. “Como curso de

administração, que também fiz pelo projeto, consegui progredir

profissionalmente”, festeja o novo empresário.

Luiz Carlos, o presidente da ONG, não acredita que exista um

único método de ressocialização para pessoas presas de diver-

sas formações religiosas, crenças e perfis psicossociais. Para

ele, o projeto Acuda émais ummétodo para transformar o atual

modelo prisional, que se encontra doente e precisa ser restau-

rado. O presidente da Acuda opinou que “é preciso recuperar a

dignidadedos presos,melhorandoprimeiroas condições físicas

das prisões e depois os métodos tradicionais de ressocializa-

ção, com a introdução de programas de autoconhecimento”.

OUTROS PROJETOS APOIADOS PELO

INSTITUTO VIVA CIDADANIA

Além da Acuda, o IVC também apoia financeiramente

outros projetos na categoria Liberdade Responsável. Veja:

Sonho de Liberdade, de Charqueadas (RS), Guaíba

(RS), Passo Fundo (RS), Porto Alegre (RS) e Torres (RS);

Formação Profissional e Cidadania, de Sapucaia do

Sul (RS);

Centro de Formação e Inclusão Profissional, de So-

ledade (PB);

Arte do Protagonismo, de Brasília (DF);

Arte Musical na Reinserção Social, de Cascavel (PR);

Word e Internet para o Trabalhador Preso no DF, de

Brasília (DF);

Libertando Encarcerados, de João Pessoa (PB);

Modernização do Centro de Educação Profissional,

de Porto Alegre (RS); e

Galpão de Tecnologia Social, de Brasília (DF).

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